QUE SERÁ DE TI, AMAZONIA (Jorge Tufic)
"Que será de ti, Amazonia,
enquanto se pensa no teu destino
se nunca separar-te dos interesses
daquele que te golpeia,
te reduz e te maltrata
Que será de ti, Amazonia,
enquanto se teima em desconhecer
que teu reino se acaba
onde a tua imensa vegetação termina
(...)
Que será de ti, Amazonia,
enquanto o revolvimento de teu solo,
à cata de minérios,
envenenar os teus rios;
e as toras de madeira submersas
desabarem sobre ti
numa queda insalubre e frenética
de chuvas ácidas
Que será de ti, Amazonia,
enquanto o desmatamento e as queimadas
transferem para os teus ares o sezão
dos pantanos
e a temperatura dos infernos
(...)
Que será de ti, Amazonia,
que continuas espoliada e sujeita
ao voto
que elege os teus algozes
(...)
Que será de ti, Amazonia,
enquanto as crianças do globo
não souberem te amar em plenitude,
ou seja,
do bicho mais rasteiro
às frontes mais altas de teus bosques
e teus igapós
(...)
Que será de ti, Amazonia,
Os tukanos pedem socorro.
Ao fugirem das queimadas,
eles invadem as cidades em busca
de comida. Primeiro foi o homem
das margens e das terras firmes
que se evadiu para sempre.
Agora são as aves de tuas matas
que se desfazem na escuridão.
Os nichos sagrados estão em chamas.
Teu coração também se revolta
e sangra, Amazonia.
Fetos de carbono
imitam pajés enforcados
nas enviras do luar.
(do livro: quando as noites voavam).
A CHUVA
Há 9 anos