sexta-feira, 17 de julho de 2009

A IRONIA EM "PAGANINI NAO REPETE".

Alguns são taxados de cômicos ou irônicos, por pura curiosidade decidi pesquisar o sentido filosofico de ambas as palavras e lendo Umberto Eco, encontrei esse texto cômico e irônico, cheio de sentidos reais das reacões humanas que nos leva a refletir sobre comportamento pessoais que precisam ser remodelados tanto na ética profissional com no trato pessoal do dia a dia, recomendo esse texto para uma reflexao sobre quebras de paradigmas e autoanalise pessoal:
"Quando Paganini, depois de um ultimo e interminavel acrobático hieróglifo de sons rapidissimos, deu por terminada a sonata, no salao do real palacio de Lucca explodiu um aplauso de fazer tremer os candelabros gotejantes de cera e iridiscentes de cristais de rocha que pendiam do teto. O prodigiosos executante entusiasmara, como sempre, o auditorio.
Acalmado o fragor dos consensos e enquanto comecavam a circular os refrescos e de todo canto elevava-se um gorjeio admirativo, a marquesa Zanoni, sentada na primeira fila e toda transbordante de rendas venezianas ao redor da peruca amarelada, disse com a voz cavernosa, fixando o concertista com um sorriso que se queria sedutor entre mil rugas de sua velha pele: "Bis!".
Enrolado no fraque, com as madeixas dos cabelos sobre os olhos, Paganini inclinou-se galantemente, sorriu para a velha gentil-dama e murmurou à flor dos lábios:
"Sinto muito, marquesa, nao poder satisfaze-la. A senhora ignora, talvez, que eu, para defender-me dos pedidos de bis que nao acabariam nunca, tenho uma máxima à qual jamais renunciei nem renunciarei: "Paganini nao repete".
A velha senhora nao o ouviu. Com um entusiasmo quase incompreensivel em sua pessoa, que era surda como uma porta, continuava a bater as maos e a gritar, com o pescoço esticado como o de uma tartaruga: "Bis! Bis!".
Paganini sorriu complacente com tanto entusiasmo, mas nao se deixo comover. Fez sinal à velha senhora para que nao insistisse e repetiu com firmeza cortês: " Paganini nao repete!".
"Como?", perguntou a velha que, naturalmente, nao ouvira.
"Paganini", respondeu o grande violinista, em voz alta, "nao repete!".
A velha surda ainda nao conseguira entender. Pensou que o musicista consentira e dispôs-se a ouvir novamente a sonata. Vendo, porém, que o célebre virtuose preparava-se para colocar o instrumento em sua caixa, exclamou aflita: "Como? e o bis?".
"Eu já lhe disse, senhora", respondeu Paganini, "Paganini nao repete".
"Nao entendi", disse a velha.
"Paganini nao repete", estrilou Paganini.
"Desculpe", respondeu a velha, "com esse burburinho não se consegue perceber as palavras. Fale um pouco mais alto".
O violinista fez das mãos alto-falante ao redor da boca e berrou-lhe quase aos ouvidos: "Paganini nao repete!".
A velha sacudiu a cabeca. "Nao entendi as últimas palavras", gritou como se surdo fosse o outro.
"Não repete, não repete. Paganini não repete". estrilou o virtuose.
Poderia acabar por aqui. Mas em vez disso, prossegue ainda por uma página, obrigando Paganini a concluir:
"Façam-me o favor, digam a essa velha que ... Eu já repeti vinte vezes, sigo repetindo: "nao repito". Quantas vezes tenho que repetir?".
Àos meus 12 leitores, estou de ferias, mas nao parei de produzir... Shalom