quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Romancinho trecho bogotá

Romance
Nesses tempos de campanhas eleitorais, reconhecia se em cada candidato, das eleições passadas e mal sucedidas ficaram um pouco nas lembranças e nas cobranças que insistiam em ocupar a velha mesa.
Longas caminhadas, suor encharcando a camisa branca de linho, com detalhes em renda. Obra de artesão. Apertos de mãos, olhos esperançosos em sua direção, gritos e silencio conviviam.
- Traga-me um copo dagua Leão. Clamava, enquanto punha as mãos no joelho, meio inclinado recobrava as forcas.
- Ta aqui, comandante! Quer parar?
- de jeito nenhum vamos ate o fim!
Leão o auxiliava como garçom, massagista, office boy e principalmente guarda-costas, sua alta estatura, corpulência, voz grave e longa barba lhe valeram o apelido.

Parte 1

Contos a deriva.

Romance
cinzas, o ceu e as pedras das calçadas, na velha Bogotá. As ruelas que circundavam a igreja do pequeno nino estavam quase desertas aquela hora do dia. Exceção feita aos pombos q tornavam ainda mais cinza a plumagem da praça Simon bolívar. Creditava à velhice o pouco sono que tinha, acordava cedo e criticava os comerciantes q acordavam tarde e dormiam tarde. Em qualquer lugar do mundo o comércio estava cedo aberto, mas em Bogotá era o contrário.
Apenas nas imediações do museu d'oro o café Don Ortiz abria cedo, mesmo nas manhãs mais frias, sediava o sarau de piadas dos vigilantes da região central, uma turma deixava o turno da noite e outra assumia o do dia. Esse encontro sempre gerava boas conversas e anedotas impagáveis, acostumou se a ouvi las, assim como as patranhas do mendigo a porta do café, se divertia c os contos dos vigilantes, mas as gargalhadas destoavam das lamurias do viciado. Café quente c pasteis bem oleosos eram os prediletos, comia devagar p não sujar o sobretudo de lã branca, imagem o mais limpa possível. Essa preocupação manifestada na aparência tinha sua origem e vigilância no caráter.
Sapatos, velhos e carunchados, eram usados p caminhadas involuntárias mas cotidianas, além de ser o exercício físico q o mantinha saudável, era também um exercício terapêutico para a alma. 
Próximo ao palácio presidencial até mesmo os policiais mais introvertidos o cumprimentavam com gestos ou olhares. Os pombos da praça Simon bolívar, ansiosos esperavam os preciosos farelos que lançava, deleite para as criaturinhas, mas tormento para os habitantes e comerciantes da redondeza, o símbolo da paz também causava muitos incômodos .
Já não mais praticava natação, não tinha piscina no prédio onde morava e o clube do qual era membro emérito possuía um quadro de frequentadores que o oprimia, por ter sido uma conhecida figura publica não tinha mais o direito ao anonimato, na Belle Époque costumava ir a Paris e caminhar livremente pela Rue Saint Effigenie, sem ser reconhecido por ninguém. Os dias eram outros, de muitos era figura desconhecida, mas de muitos outros notória. A exposição publica diária lhe deixaram traumas q levaria p o leito final.
Administrador bem avaliado, levou a cidade ao apogeu cultural, econômico e de bem estar, porém não conhecia o ritmo da política, não se relacionava bem com os parlamentares e não cultivava o habito da bajulação aos magistrados, estes, quase deuses, exigiam veneração. Não sabia dançar a valsa política, pisava sempre no pé de seus parceiros políticos, as vezes sem querer, as vezes de  proposito mesmo. Alguns desses tornaram se oposição ao seu governo e adversários pessoais, utilizavam os veículos de comunicação para degradar sua imagem e minar suas bases eleitorais. Não entendia os caminhos serpenteantes que levavam a ingratidão. Permanecia amigo dos amigos e adversário dos adversário. Nesse ponto assemelhava se aos guerrilheiros, mas apenas nisso.
Na casa El Libertador pedia um suco de curuba e sentava se na mesa externa que lhe oferecia uma vista privilegiada do parque arborizado, o vento frio não o incomodava. Desistia da contemplação, voltava se para dentro de si, rosto sisudo, abria o velho baú de ressentimentos.

Ela era muito linda, preciosa, amável. Morena de estatura media, filha do Amazonas, tinha sangue brasileiro. Engraçou se dela num dos raros momentos de distração e relaxamento emocional, desde o fim do casamento com Amanda, com quem teve os três filhos que plantou no mundo, nunca mais se relacionou firmemente com ninguém, seu ritmo de vida era a principal desculpa para o descompromisso. Foi pego de surpresa pela paixão, a eterna juventude indígena lhe deixava maravilhado. Iara era quase uma década mais nova do q ele, sorridente, era seu deleite, motivo para algumas gargalhadas que saiam como erupção de um vulcão, raro mais incontrolável, rejuvenesceu nos primeiros meses. 
Pensava que esconderia tamanha beleza debaixo de seus lençóis todos os dias ou que os outros não descobririam aquela beleza tão singular na metrópole. Iara silenciosa, raramente falava e nunca opinava sobre qualquer assunto. Calava se qual mulher mulçumana. Mas pra que falar? seus olhos de um castanho de cair de tarde falavam por si só. Destacavam se, encerravam as discussões, acalmava e ao mesmo tempo agitava.

Seu nome tinha a inspiração do grande iniciador da dinastia franca: Clóvis (481-511), cuja conversão ao catolicismo deu inicio ao que viria a ser um estado unificado sob uma Fe comum.